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A  exposição “Colônia”, de Armarinhos Teixeira ,nesta individual, são apresentadas 12 esculturas inéditas de grande porte, elas todas produzidas in loco pelo artista.

 

Armarinhos Teixeira faz uso de materiais incomuns ao circuito tradicional de arte em seu processo criativo. “São materiais fora de circulação social”, resume o artista. Matérias-primas industriais nobres, utilizadas em processos de fabricação de diversos produtos do nosso cotidiano. Assim, mantas de poliéster, aço e borracha, fardos de algodão não beneficiado, argila, couro, entre tantos mais, ganham vida a partir do engenho do artista, que imprime diversas camadas de significados às grandes esculturas. O visitante que adentra o espaço depara-se com sete enormes estruturas, algumas medindo 7 metros de altura, nas quais Armarinhos instala seus trabalhos. Essas esculturas autoportantes causam estranhamento e fascínio ao mesmo tempo, dado o arranjo harmônico ou “orgânico” que o artista lhes confere. “É como se ele tomasse posse do lugar, colonizando esse território com suas ideias e formas”, declara o curador da mostra Marcus Lontra. A estas, somam-se uma obra de parede e quatro esculturas de chão, como aquela em que se lê “Aquilo que circula, emerge”, frase do artista que sintetiza sua necessidade premente de trazer movimento e vida à aparente inércia das coisas e, por que não?, dos indivíduos.

 

“É preciso que eu esteja íntegro, ou seja, em estado sólido, líquido e gasoso, para que o fenômeno criativo aconteça. A criação dos meus trabalhos depende da minha percepção do território, os espaços e seus recursos, sejam eles orgânicos ou inorgânicos”, declara Armarinhos.

ESTRANHA PAISAGEM

 

De onde vêm essas estranhas figuras que dominam todo esse espaço? Elas se apresentam dentro do universo e da dinâmica da arte, mas elas são, também, filhas da indústria, da botânica, da ciência. Por isso são assim, essa é a sua natureza, entre o Ser e a Coisa; o que parece ao primeiro olhar elegância e acaso é desenho, design, destino, definido pela pesquisa, pela verdade e pelo método. A sua história é a sua morfologia e, como bem define o artista, elas são obras sem memória.

 

E assim elas se apresentam: agrupadas, colônias, territórios ocupados, encantamento e ameaça, mistério da Esfinge, decifra-me ou te devoro. Em silêncio, estáticas, vivem na iminência do movimento, da algazarra, da invasão dos sentidos, da posse e da possessão. A arte começa quando acaba a natureza e é nessa fresta, nessa delicada fronteira que os objetos criados por Armarinhos Teixeira se apresentam. As suas estruturas, sólidas e definidas são recobertas por uma matéria estranha, mantas, mantos e mortalhas, e formam um organismo desafiador que opera no limite da razão e do mistério, da ordem e do caos.

 

Plantadas no interior da instituição que reverbera poder e afirmação, essas figuras se aproximam do drama humano a nos indagar: de onde viemos, quem somos, para onde vamos? Como sintetiza Ferreira Gullar, "a arte existe porque a realidade não basta". E assim elas seguem a sua sina, o seu destino de fazer da beleza um exercício de conhecimento e descobertas. Armarinhos Teixeira constrói com precisão as suas metáforas de vida, identificando, selecionando, editando corpos e mensagens, dialogando com a ciência e fazendo da experiência estética uma superação da contemplação do belo para invadir o território da reflexão, da capacidade da arte contemporânea ser uma ferramenta cada vez mais necessária como  instância de criatividade, de pesquisa e de inovação.

 

Marcus de Lontra Costa | Curador da exposição “Colônia”

São Paulo. janeiro. 2019

STRANGE LANDSCAPE

 

Where do the strange figures which dominate all this space come from? They present themselves within the universe and the dynamics of art, but they are also heirs of industry, botany and science. That is why they are the way they are, that is their nature, between the Being and the Thing, what looks at first sight like elegance and chance is design, drawing, destiny, defined by research, by truth and by method. Its History is its Morphology, and, as the artist defined so well, they are works without memory.

And so they present themselves in groups, colonies, occupied territories, enchantment and threat, mystery of the Sphinx, decifer me or I will devour you. In silence, static, they live on the verge of movement, of fun, of invasion of the senses, of ownership and possession. Art begins where nature ends and it is in this gap, in this delicate frontier that the objects created by Armarinhos Teixeira present themselves. Their structures solid and well defined, are covered by a strange substance, blankets, cloaks and shrouds and they form a challenging organism, which operates on the edge between

reason and mystery, order and chaos.

 

Planted inside the institution, which exudes power and affirmation, these figures get near the human drama and ask us: where do we come from, who we are and where we are going to. As Ferreira Gullar summarized: " art exists because reality is not enough". And so, they pursue their fate, their destiny of making beauty an exercise of knowledge and discovery. Armarinhos Teixeira builds with precision his metaphors of life, identifying, selecting, editing bodies and messages, talking to science and turning aesthetic experience into overcoming the contemplation of beauty to invade the territory of reflection, of the capacity of contemporary art of being a tool more and more necessary as a means of creativity, research and innovation.

 

Marcus de Lontra Costa | Curator of the exhibition “Colony”

São Paulo. janeiro. 2019

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